Filoxera é um tipo de pulgão que ataca várias partes da videira
em diversos momentos do ano.
Existe há séculos na América do Norte. Com isso, as espécies de uvas norte-americanas (não viníferas, que geram vinhos inferiores, os vinhos de garrafão) coevoluíram com a praga por séculos e adquiriram grande resistência, tornando-se quase imunes. Porém, a Filoxera só chegou na Europa (e de lá para outros continentes), no século XIX. A vitis vinífera (uvas que produzem vinhos de melhor qualidade) nunca havia tido contato com o pulgão e era (e ainda é) totalmente vulnerável. No final do século XIX, a economia européia era movida a vinho. Com a colonização da América, os europeus tentaram cultivar a vitis vinífera no Mundo Novo. Todas as tentativas fracassaram, pois as vinhas morriam sem explicação. Não se sabia as causas, mas provavelmente tratava-se da Filoxera e do Oídio (outra praga terrível que também viria a atacar a Europa). Tentaram então fazer vinho com as vinhas locais, mas o resultado não era bom. Os vinhos elaborados a partir de vinhas não-viníferas possuem um gosto desagradável. Então, para resolver este problema levaram mudas de vinhas americanas à Europa para estudá-las... só não imaginavam que estavam carregando junto a praga.
Um certo Monsieur Borty recebeu vinhas americanas, vindas Nova York, e então plantou-as em seu quintal, no Languedoc, sul da França, em 1862. Notou-se que as demais vinhas de sua plantação de vitis vinifera começaram a morrer. Cerca de cinco anos depois, todo o sul da França estava devastado. Em uma década, a produção de vinhos da França caiu a um terço e a calamidade já era global. A última região a ser atacada pela praga foi Champagne, em 1890. O Douro foi a primeira parte de Portugal com registros de Filoxera, em 1865. Em 1875, o pulgão já estava na Austrália, em 1880 na África do Sul, em 1885 chegou ao norte da África, na Argélia e de lá atacaria vinhedos na Tunísia e Marrocos. O século XIX chegou ao fim com o mundo dos vinhos destroçado e com a produção mundial seriamente comprometida. Muitos vinhedos foram extintos, muitas castas desapareceram dando lugar a outras. A geografia do vinho estava mudada para sempre.
SITUAÇÃO ATUAL
A Filoxera ainda existe e ataca. Os cientistas não sabem todas as diferenças entre a vitis vinífera e as espécies americanas para determinar os motivos que levam uma a resistir à praga e a outra não. Sabe-se que o pulgão não age em terrenos arenosos, razão pela qual alguns vinhedos resistiram como, por exemplo, na região de Colares, em Portugal, próxima a Lisboa. O Chile é também um caso sempre citado, pois a Filoxera não chegou até lá por conta das proteções naturais, já que o país é uma "ilha" entre a Cordilheira dos Andes, o deserto de Atacama, a Antártida e o oceano Pacífico. Além disso, atribui-se o fato também ao solo chileno ser rico em cobre e outros minerais, uma proteção natural. A Sicília - com seus terrenos vulcânicos, de consistência muito rica - também abriga alguns vinhedos "virgens", intocados pelo maligno inseto.
A CURA Em Montpelier, EUA, desenvolveram um processo que não chega a ser a cura propriamente dita da praga, mas um paliativo. Após muitas experiências descobriram, em 1874, que ao enxertar a vitis vinífera sobre uma vinha americana era possível produzir vinhos finos em uma planta resistente a praga. Apenas a raiz da planta é da vinha americana e sobre ela cresce uma vitis vinífera. Este método foi e é a cura adotada em todo o mundo até hoje. As vinhas enxertadas são chamadas de cavalo, este nome se dá porque elas são plantadas umas sobre as outras. Ainda assim, as vinhas em cavalo podem ser atacadas se o porta-enxerto (o tipo de vinha americana que fornecerá suas raízes à planta) não for bem escolhido. É bom lembrar que a Filoxera, como todas espécies que habitam o planeta, pode evoluir e sofrer mutações naturais, e um porta-exerto hoje resistente à praga pode, no futuro, não o ser mais.