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Conservas e Geleias por Roberta Nogueira e João Affonso


Roberta Nogueira e João Affonso,

proprietários da Empório Império

"Não há como fazer mágica se

o produtor não usar produtos de qualidade.

1. Fale um pouco sobre como surgiu a Empório Império.

Tanto eu, João, quanto a Roberta, minha mulher e sócia, gostamos de cozinhar e sempre curtimos fazer esta atividade com amigos e família. A Roberta é nutricionista, pós graduada em segurança alimentar, e sempre teve o desejo de ter um estabelecimento próprio como um café e bistrô. Como gostamos muito da região serrana do Estado do Rio de Janeiro, em 2015 iniciamos um estudo de encontrar um lugar para abrir. Escolhemos a cidade de Petrópolis, por ser uma cidade bastante turística, além de excelente qualidade de vida e o reconhecimento de uma boa gastronomia. Alugamos uma casa no bairro da Mosela e iniciamos os estudos locais, no qual identificamos que não poderíamos depender apenas do público turístico dos finais de semanas e período das férias. Assim definimos que poderíamos produzir alguns “produtos da casa” para vender pela região serrana e município do Rio de Janeiro. Inicialmente a ideia seria da Roberta se desligar da empresa que trabalhava e eu a auxiliaria na administração, gestão e nos finais de semana, até que o negócio estivesse equilibrado e eu pudesse me desligar do meu trabalho no Rio de Janeiro. Porém, com a crise econômica, ocasionada pelo quadro político nacional, eu é quem fui demitido do emprego. Inicialmente isto havia colocado os nossos planos por água abaixo. Decidimos fazer do limão uma limonada e optamos pelo menor risco do negócio, que seriam os potes de conservas e geleias. Estudamos os produtos por uns 4 – 6 meses e em abril de 2016 iniciamos as nossas atividades em eventos gastronômicos e em mercados pelo Rio de Janeiro e Petrópolis.

2. Como é a estrutura de fabricação e o processo de produção na Empório Império? Quais as dificuldades de se produzir alimentos no Brasil?

A empresa toda conta apenas com dois sócios, que ao mesmo tempo são funcionários do comercial, do almoxarifado, da logística, do marketing entre tantos outros processos da cadeia de valor que qualquer empresa minúscula, como é a nossa. Nossos processos são artesanais, manuais, como todos os pequenos são. Não utilizamos, até mesmo pela nossa filosofia de empresa, bem como nossa missão e valores, qualquer aditivo químico para a conservação dos nossos produtos, que não sejam aqueles naturais como azeite, vinagre, açúcar entre outros.

As principais dificuldades de produzir alimentos no Brasil são os preços dos insumos, logística e legislação que não é clara. Quanto à legislação, este é um assunto que a Roberta domina muito bem e está responsável. Exemplo: Rótulos dos produtos, informações que devem estar contidas, tamanho de letras, aviso aos alérgicos. Estas são informações que não são encontradas em um único local de consulta. Outra dificuldade é preço em escala para os insumos, bem como os prazos para pagamento dos mesmos. Exemplo: procurei negociar preço de azeite extra virgem para alguns dos nossos produtos diretamente com as distribuidores / importadoras. Liguei para duas grandes no eixo Rio/São Paulo. Uma destas empresas, simplesmente nos ignorou, nunca retornando o nosso contato. Acredito que seja por achar que R$ 400,00 de compra mínima não é significativo, quando também se vende para rede de supermercados. A outra empresa tivemos retorno e possui a compra mínima similar. Porém, conseguimos comprar azeites da mesma marca mais baratos em promoções nos supermercados, o que inviabiliza comprar diretamente deles. Já houve momento que a diferença foi de quase R$ 10,00 no litro. Este custo é muito significativo ao pequeno produtor. Estes são exemplos dentre tantos que existem.

3. Que características determinam um produto de boa qualidade? Até que ponto a qualidade dos produtos interfere no processo de comercialização?

O que determina um produto de boa qualidade são insumos também de boa qualidade. Não há como fazer mágica se o produtor não usar produtos de qualidade. Claro que, além disto, há outros itens que também colaboram que são os métodos produtivos corretos / adequados dos produtos. Mas não adianta isto, se o produtor não estiver com bons insumos.

Quando você pergunta até que ponto a qualidade do produto interfere no processo de comercialização, eu digo que 100%. Tudo vai depender do público alvo que o estabelecimento ou a feira que você estiver fazendo tem. O que eu quero dizer é que se você produz um produto de baixa qualidade, o seu mercado será um. Porém se você elabora produtos de alta qualidade, o seu mercado será outro. Qualidade não é barato! Não se consegue vender qualidade com preço baixo. O público que se preocupa com preço simplesmente, não valorizará o seu produto, bem como não saberá apreciar adequadamente. Posso dar um exemplo prático disto: nós temos um cliente direto (denominação para cliente pessoa jurídica) em Petrópolis que pratica o mesmo percentual de sobrepreço nos produtos em sua loja. Lá há uma geleia de pimentão vermelho concorrente, oriunda de Minas Gerais. O preço final desta geleia concorrente é quase a metade do preço a qual nossa é revendida. A geleia de pimentão vermelho da Empório Império, o consumidor sente bem o sabor do pimentão, enquanto a do concorrente é açúcar puro, totalmente sem sabor. Porém a maior parte do público do estabelecimento é um público que vislumbra apenas o preço, não se importanto para a qualidade. Ele trabalha com os nossos produtos porque ao mesmo tempo ele tem clientes que exigem qualidade. Obviamente fica inviável concorrer com um produto de baixa qualidade que é açúcar, água e lascas de pimentão. Sim, compramos a concorrente para experimentar, mas não conseguimos passar de duas colheres (risos).

4. Hoje em dia a maioria dos pequenos produtores depende da venda de seus produtos para viver. A conclusão é que não basta saber produzir, é preciso saber vender também. Como é feita a divulgação dos produtos da Empório Império? Quais as principais dificuldades que vocês enfrentaram na hora de comercializar seus produtos? Como venceram esses obstáculos?

A pergunta é bem pertinente, principalmente para quem está iniciando a sua atividade, independente do ramo. Nós nunca trabalhamos na área comercial, vendendo produtos ou mesmo representação de produtos, bem como eu, João, não tinha perfil em redes sociais. Porém, para vivermos e brigarmos com a concorrência, a nossa primeira atitude foi abrir endereço de correio eletrônico, além de perfil no facebook e no instagram. Iniciamos como todos iniciam, publicando o inicio das atividades, lojas que estamos, eventos que participamos, parte do nosso ciclo de produção. Com o tempo identificamos a necessidade de ter um site, pois apenas os perfis não eram suficientes para lidar com os clientes diretos. Precisávamos de uma homepage onde poderíamos ter todos os nossos produtos concentrados, facilitando a visualização do público geral, além de ser mais um canal de comunicação. Outra forma de divulgação são folhetos com os produtos que distribuímos para o público nos eventos que participamos. Já tivemos retornos positivos com os folhetos, porém não são sistemáticos. Isto tudo estamos falando quanto ao público final. Para os clientes diretos, fazemos abordagem direta com os estabelecimentos. Podemos indicar duas dificuldades sistemáticas que temos enfrentado desde o início das nossas atividades, onde: 1 – abordagem para os clientes diretos. Infelizmente as respostas não acontecem com a mesma agilidade que gostaríamos. Temos casos de clientes que levam meses para definir se irão ou não estabelecer uma parceria conosco. Claro que razões para as demoras são as mais variadas e justificáveis. Mas tivemos bons êxitos na manutenção do diálogo. 2 – eventos que realizamos, temos percebido que o público atualmente é muito mais de consumo imediato ao do consumo “take away”. Porém nessas participações, além de reforçar a nossa marca junto ao público da região, oportunidades de novos negócios tem acontecido. Hoje somos mais seletivos nos eventos que participamos. Lembrando que nestes eventos que temos participado, não se trata exclusivamente de venda e compra dos nossos produtos, trata-se também de apresentá-los ao público em um conceito geral. Porém, como todo nano empresário, temos um break even a ser atingido.

5. Hoje em dia, têm surgido muitas feiras de divulgação de produtos brasileiros? Vocês têm participado? Vocês acham que esses eventos aproximam os produtores e os consumidores?

As feiras em si, de Business to Business que são focadas no mercado, nós não temos participado; pois o custo de participação, por algumas que levantamos, são inviáveis para o pequeno produtor como nós. Mas temos conseguido associar bem a nossa marca com seguimentos tops, como os vinhos, por exemplo. Agora, quando falamos de feiras que são diretas entre os produtores e os consumidores, temos participado sim e não pretendemos perder esta característica. É muito importante para nós, nelas é que podemos conversar com o público e captar quais são as expectativas. Um exemplo bem legal que temos é a nossa cebola caramelizada, que desenvolvemos por solicitação do público. Além disto, ainda fomos eleitos, pelo próprio público, pelo feedback que nos foram passados, que tínhamos a melhor cebola caramelizada do evento em questão, o qual estávamos participando na Barra da Tijuca. Melhor que pesquisa de mercado é conversar com o público, trocar ideias e entender o que querem e como querem.

6. Fale sobre seus produtos. Qual(is) o(s) mais vendido(s)? Qual(is) não pode(m) faltar? Qual o(s) preferido(s) de vocês?

Poderíamos falar por horas sobre os nossos produtos, mas vamos tentar resumir.

Hoje, nós da Empório Império, temos 10 produtos que são produzidos de forma constante:

01 - Mango Chutney, que procuramos realçar o sabor da manga. Bem diferente do que os tradicionais. O público tem gostado muito.

02 – Chutney de banana, que deixa o público bem curioso quanto ao sabor e quando experimentam, praticamente todos ficam maravilhados com a complexidade que é. 03 – Jiló do João, o qual descobrimos que há um público bem carente quanto aos produtos derivados deste vegetal tipicamente brasileiro. Este nosso Jiló tem o poder inédito de fazer quem não gosta de pedir Bis. Já ouvimos diversas pessoas falarem que jamais imaginaram que iriam pedir jiló para levar pra casa. Aos poucos estamos desdemonizando o jiló (risos).

04 – Relish de Pepino, que é como o sunomono da culinária japonesa, porém mais suave. Ele lembra bastante também pickles em sanduíches.

05 – Geleia de Pimenta, que é elaborada com a pectina da maçã. Muita gente acha que fazemos com mel, em um primeiro instante. Ao experimentar a pessoa sente um doce e depois sente a picância da pimenta. Caiu no gosto do pessoal.

06 – Geleia Natural de Damasco, que é feita apenas com fruta, sem qualquer adição de açúcar ou adoçante. Excelente para quem tem uma dieta restrita ao açúcar.

07 – Geleia de Pimentão Vermelho, supreendente para quem experimenta pela primeira vez. Ela não é carregada no açúcar e limpamos a parte branca do pimentão, que é indigesto para as pessoas. Utilizar em cream cheese e patês, deixando ainda mais saboroso.

08 – Caponata de Berinjela, seguimos a tradicional receita italiana, como as mamas fazem. Porém não a condimentamos como os italianos costumam fazer. A deixamos bem suave, sem qualquer amargor da berinjela também. Quem quiser pode acrescentar uma pimenta em casa.

09 – Shitake em conserva, este já era um produto que nós já tínhamos em mente e, quando começamos a conversar com os clientes e perceber que os mesmos desejavam um produto menos ácido, corremos para desenvolver a receita. Como não utilizamos qualquer aditivo químico, estamos sugerindo que o armazenamento seja de forma refrigerada ou em ambiente bem arejado, com constante ventilação.

10 – Cebola Caramelizada, é uma cebola bem diferente do que temos na prateleira do supermercado. É uma cebola com sabor, textura natural da cebola e com surpreendente toque no final da degustação. Na verdade, eu convido os leitores do blog a experimentarem e constatarem pessoalmente a nossa cebola. Permita-me destacar que a cebola, além de ser algo que também veio da demanda do público, era uma solicitação do meu pai (João falando). Ele comentava há meses sobre a cebola caramelizada de uma grande marca que ele havia provado. Com o passar do tempo compramos no supermercado para experimentar e, no dia seguinte, ele acabou me dando uma de presente. Pois bem, experimentamos para saber o que de tão sensacional havia e que poderíamos implementar na nossa receita. Provamos e aí veio a nossa decepção (risos): só sentimos suave ardência e mais nada. Corri para o mercado, comprei cebola, chorei descascando-a e fatiando-a, para desenvolver o que acreditávamos como deveria ser. Daí nasceu a nossa Cebola Caramelizada e vem fazendo um sucesso muito grande.

7. Onde podemos encontrar os produtos da Empório Império? Vocês tem planos de expansão? Quais as expectativas para o futuro?

Nossos produtos podem ser encontrados nas melhores delicatessens e armazéns do Rio de Janeiro e Petrópolis, até o presente momento. Aos poucos estamos ampliando os pontos de vendas e estudando outro estado. Os leitores podem acessar o nosso site www.emporioimperio.com.br e identificar o melhor ponto de venda. Em breve iniciaremos também e-commerce pelo nosso próprio site, bem como de parceiros. Assim poderemos atender outros estados. Além disso tudo, também temos os eventos pela cidade do Rio de Janeiro, no qual o consumidor pode nos encontrar diretamente.

Pretendemos desenvolver cada vez mais novas parcerias, não apenas comerciais, mas na cadeia produtiva também. Certamente temos ideia de expandir em um futuro de médio prazo. Porém algo que seja sustentável para nós, sem ferir os nossos valores. Daremos um passo de cada vez, para não tropeçarmos. Além disto, também pensamos em aumentar, de forma equilibrada, a nossa variedade de produtos. Não temos nada de concreto ainda no momento quanto a isto, mas estamos estudando e planejando o que podemos fazer. Como lançamos 5 novos produtos em 2017, entendemos ser melhor trabalhá-los para consolidá-los.

Quanto as expectativas para o futuro é um cenário econômico e político mais estável em nosso país. Nesta instabilidade evidentemente o consumidor se sente inseguro, cortando itens que não sejam de necessidade básica. Consequentemente, nós sofremos muito para conseguir fazer o produto girar nas prateleiras dos nossos clientes, bem como nos eventos de gastronomia. Queremos crescer fisicamente para poder contribuir mais diretamente para a economia nacional e regional, como contratar mão de obra, por exemplo. Mas precisamos que o Estado do Rio de Janeiro melhore a sua economia, bem como o município pare de olhar para o retrovisor e comece a colocar a agir proativamente para a cadeia produtiva. Infelizmente, pelo o que tenho conversado com os colegas do ramo, as medidas tomadas em ambas as esferas são insuficientes ou mesmo prejudiciais.


8. Que recomendações você daria para quem quer começar um negócio no ramo alimentício?

Não sei se nós temos bagagem ou mesmo gabarito para recomendar às pessoas. Mas posso dizer que o trivial é fundamental, ou seja, pesquise os produtos ou serviços que você quer desenvolver, legislações aplicadas, veja quem são os seus concorrentes e o posicionamento destes, seu público alvo, estabeleça uma estratégia comercial e por aí vai. Qualquer plano de negócio vai determinar isto que eu falei, além de outros pontos. Planejamento e disciplina são os mais difíceis de aplicar no dia a dia, quando somos apenas um ou mesmo dois. Porém jamais esquecer de revisitar estes itens e replanejar conforme os seus resultados e feedbacks dos clientes, parceiros e consumidores. Com o tempo, identificar o que se pode melhorar no seu processo e procurar implementá-lo. Aproveitamos para deixar uma dica muito importante: Concorrente não é inimigo. Pode ser colega de ramo e sabendo trabalhar, torna-se aliado. Basta saber se posicionar. Tivemos gratas surpresas com a troca de diálogo com concorrentes diretos e entre parceiros. Infelizmente alguns não resistiram e optaram por abandonar o ramo. Desta forma a união faz a força.


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