Marcelo Marques,
sommelier e idealizador do Espaço École du Vin
"... muitas pessoas falam que
um cálice de vinho por dia faz bem ao coração,
então passei a ter este hábito.
1. Fale um pouco sobre você e como começou sua história com os vinhos.
No ano de 2015 fui vítima de um infarto. Desde então eu passei a prestar atenção que muitas pessoas falavam que um cálice de vinho por dia faz bem ao coração, então passei a ter este hábito. Aos finais de semana eu e minha esposa passamos a beber vinhos pois o meu hábito era beber cerveja. Então resolvi me associar a um clube de vinhos e logo depois fomos assistir a uma Aula de Iniciação ao Mundo do Vinho para adquirirmos algum conhecimento para assim aproveitarmos melhor nossas experiências com vinho. Na primeira degustação de vinhos que fomos eu vi um senhor com mais de 80 anos apresentando alguns vinhos, e ali percebi que o mundo do vinho poderia prolongar meu “prazo de validade” profissional, então passei a ler sobre o assunto e decidi, com incentivo de minha esposa, fazer o curso de Sommelier de Vinhos. Hoje sou sommelier de vinhos, tenho uma loja virtual de venda de vinhos, Taninos RJ, e apresento Master Classes onde o vinho é sempre o tema.
2. Como surgiu a ideia de criar o Espaço École Du Vin?
O Espaço École Du Vin nasceu de uma conversa com minha esposa, onde vimos que muitas pessoas sentem-se intimidadas pelo próprio consumo de vinhos, pois acreditam que o hábito de consumir vinhos é um hábito requintado e que merece muito estudo para ser apreciado. Além disso, notamos que alguns temas dentro do consumo de vinhos ainda poderiam ser explorados de maneira mais acessível ao iniciante, mas ao mesmo tempo ser informativa para os iniciados e até sommeliers. Juntamos isso ao fato de termos em nosso apartamento um espaço agradável, aconchegante, informal, e descontraído. Sem a obrigatoriedade de o participante ter que comprar algum dos vinhos apresentados e sem cobrarmos taxa de serviço, pois sempre oferecemos queijos, pães, embutidos, azeite, café, chá e água, e sobremesa, tudo incluso no valor da apresentação.
A premissa do Espaço École Du Vin é:
Apresentar ao consumidor vinhos de qualidade que podem ser encontrados por bons preços;
Apresentar informações relevantes ao tema, e também;
Falar das vinícolas e lojas parceiras.
Tudo isso em um ambiente em que o participante possa se sentir em sua própria casa.
E as parcerias que firmamos com lojas, vinícolas, importadoras e representantes é fundamental para que esse trabalho de informação e formação do consumidor continue.
3. Por que escolheu ser sommelier? O que você pensa sobre os cursos que estão sendo oferecidos no Brasil? Qual(is) você fez? Fale um pouco sobre a dinâmica desses cursos.
Quando decidi me tornar um Sommelier eu não tinha ao certo um posicionamento sobre em que setor eu gostaria de trabalhar, sabia apenas que queria trabalhar com vinhos. Então decidi fazer o curso de Sommelier de Vinhos do SENAC-RJ por ser um curso que, além dos conceitos básicos e avançados que um Sommelier tem que saber, aprende-se inglês para atendimento e o Serviço do Vinho, coisa que nem todos os cursos apresentam.
4. Qual o papel de um sommelier? Quais os seus principais desafios?
O papel do sommelier de serviço (restaurante e hotéis) é auxiliar o cliente na escolha do melhor vinho para acompanhar a refeição, levando em consideração o gosto do cliente, a harmonização entre prato e vinho, e quanto o cliente está disposto a gastar. Mas ele também é responsável pela escolha, compra, armazenamento, controle da adega, criação e manutenção da carta de vinhos e treinamento da brigada, para que saibam trabalhar com o vinho. Existem também os sommeliers de vinícolas, lojas, importadoras, que em sua maioria são os responsáveis por apresentar os vinhos aos clientes.
O principal desafio é proporcionar um momento satisfatório para o cliente.
5. Qual a técnica principal para conseguir degustar um vinho com facilidade? Quais as maiores dificuldades?
A análise organoléptica (Análise Sensorial) de um vinho é dividida em 3 etapas: Visual, Olfativa e Gustativa. Cada uma tem sua importância e relevância na análise de um vinho, mas em minha opinião a etapa mais importante é a gustativa pois ela, além de confirmar ou não a análise olfativa, apresenta acidez, taninos, corpo e estrutura, e esses elementos você não vai conseguir identificar nas análises visual e olfativa.
6. Fale sobre a vitivinicultura brasileira. O que você pensa sobre os vinhos nacionais? Estamos longe de sermos reconhecidos como produtores de qualidade? O que precisamos fazer para tal reconhecimento?
A vitivinicultura brasileira começou em 1532 com Martin Afonso de Souza, mas somente a partir do ano 2000 é que o Brasil passou a produzir vinhos finos de qualidade, e os vinhos brasileiros estão mostrando que tem potencial para competir com vinhos de países conhecidos como grandes produtores de vinhos de qualidade. O Brasil ainda está formando sua identidade vitivinícola e o consumidor brasileiro é de fundamental importância para esse processo, pois é através de seu feedback que será formado o perfil do consumidor, e em consequências as vinícolas passarão a trabalhar para que essa demanda seja atendida. Mas a imagem que o vinho brasileiro tem é: um vinho alegre, versátil, jovem e cheio de vida como o povo brasileiro. E a maior referência para quem quer aprender sobre o vinho brasileiro é o mestre Rogério Dardeau, em que observo com bastante atenção pois ele talvez seja o maior estudioso do vinho brasileiro na atualidade.
7. Sobre seus vinhos preferidos… que estilo de vinho nunca falta na sua adega?
Eu gosto de vinhos de bom corpo, barricados, de guarda. Gosto muito dos vinhos potentes do velho mundo, mas os vinhos Brasileiros estão me conquistando. Recentemente apresentei uma Master Class com Super Tintos Brasileiros que são surpreendentemente espetaculares.
8. Faça uma sugestão de um vinho e o prato que melhor harmoniza com ele.
Mês passado eu conheci o iMortali, um biodinâmico de corte bordalês da Vinícola Santa Augusta. Uma vinícola boutique do Planalto Catarinense que está fazendo um trabalho fantástico. Ele harmoniza muito bem com um carré de cordeiro grelhado, com cogumelos salteados e molho de gorgonzola.
