Luiz Carlos Cattacini Gelli, Engenheiro, Chef, Sommelier e
Proprietário da empresa Cattacini - Vinhos Nacionais Exclusivos.
"Minha história com os vinhos
deve vir de outras vidas.
1. Fale um pouco sobre você e como começou sua história com os vinhos. Minha história com os vinhos deve vir de outras vidas. Já aos 18 anos comecei a beber vinho e não parei mais. Na época, na casa de meu ex-sogro, comecei a ter acesso a alguns vinhos importados e logo adquiri o gosto. No lar de meus pais, os vinhos eram para as ocasiões mais importantes e seus convidados, o que também ajudou na minha iniciação. Aos 20 anos destinava parte do que recebia, com aulas particulares e monitoria na faculdade, para comprar vinhos e logo meu armário se transformou na minha primeira adega e até hoje não dispenso este eletrodoméstico. Nesta época não havia as carreiras de hoje, apenas engenharia, a que segui, medicina, psicologia, direito e outras poucas. Livros de vinhos nem imaginava que havia, cursos, gastronomia, etc. idem e não dava nem para imaginar que existiria a profusão de títulos que encontramos hoje. Portanto, vivi na escuridão por muito tempo e por isso minha formação foi lenta e em cima do pouco que encontrava no caminho. Recentemente assisti uma palestra de Carlos Cabral, que dispensa apresentações, na FGV, e ele descreveu as dificuldades de sua formação de uma maneira que parecia que era eu quem estava ali falando ao público. Em 1985 entrei para a ABS-Rio, um dos primeiros associados, e tive acesso a informações importantes que ajudaram a ampliar meu conhecimento. Hoje, muito tempo depois, com vários cursos, viagens e degustações na bagagem me dedico integralmente ao mundo dos vinhos na empresa que criei.
2. Como surgiu a oportunidade de começar a fazer seus próprios vinhos? Algo em mim, um registro ancestral, talvez, sempre me cobrava e não conseguia enxergar o que fazer, apenas sentia um desconforto, uma cobrança de que alguma coisa na área da enogastronomia deveria ser tentado e eu não sabia explicar o porquê. Então, em 2006, resolvi cursar a Faculdade de Gastronomia na Estácio de Sá e o resultado foi incrível, pois além de melhorar e muito a minha performance na cozinha de casa tive certeza que não seria esse o meu caminho profissional a seguir. Pouco tempo depois participei da primeira turma de Winemakers, ministrada pela Miolo em 2008, e senti que durante o curso a ficha começou a cair e antes de sua conclusão já estava colocando no papel as primeiras ideias e ao final já estava com a empresa constituída.
A Cattacini foi idealizada como uma empresa produtora de vinhos brasileiros que através de seus produtos pudesse representar os diferentes terroirs do Brasil. Mas que também expressasse a minha personalidade com vinhos diferentes, com resgates de cepas históricas, variedades pouco produzidas, cortes inusitados e vinhos bem direcionados à mesa, já que sou fã de gastronomia. Por isso o slogan da marca: Cattacini - Vinhos Nacionais Exclusivos. Se a Cattacini não existisse nossos vinhos não seriam produzidos e, portanto, não consumidos pelos enófilos brasileiros, o que seria uma pena: uma exclusividade! Hoje a Cattacini é considerada, segundo o escritor Rogério Dardeau, em seu livro Vinho Fino Brasileiro, como o primeiro négociant brasileiro. A Cattacini se diferencia de um négociant tradicional por que desenvolve e cria os vinhos que comercializa através de parcerias com vinícolas brasileiras que permitem esse tipo de “intromissão” em seus processos e não apenas coloca a sua marca nas garrafas.
3. Como foi a busca por parceiros? Quais os critérios de seleção? Cite eles. Simples: apenas empresas no estado da arte em termos de tecnologia e conhecimento, com enólogos de alto nível de formação, como o que pode ser encontrado nas vinícolas Miolo, Santa Augusta, Luiz Argenta, Piagentini, Ouro Verde, Salvati & Sirena e Don Giovanni, minhas parceiras no momento. 4. Fale sobre os rótulos dos seus vinhos. Como foram criados?
Como disse a Cattacini produz vinhos que expressam a minha personalidade e por isso os rótulos não poderiam ficar de fora. Para muitos é um mero detalhe, para mim é parte do todo. Gasto muito tempo na criação dos mesmos. Nos rótulos tento passar os valores da marca e um pouco de minha personalidade, história, credos e gosto pessoal. Já recebi críticas para mudá-los para uma roupagem clássica, mas minha origem não permitiria utilizar brasões, castelos, etc., pois seria falso. Penso que é mais coerente uma apresentação moderna que ajude construir a marca em cima dos seus valores e conceitos.
O símbolo da Cattacini é Quíron, o centauro mais proeminente segundo seus próprios pares. O escolhi, pois além de representar o meu signo e gostar dos sagitarianos também gosto desta história da mitologia grega. A logo da Cattacini apresenta o Quíron com o arco em flecha.
Quantos rótulos clássicos, lindos, são utilizados para vender produtos de baixa qualidade por empresas de fundo de quintal?
Um cliente certa vez me disse que o azul era uma cor muito forte que mais afastava do que atraía. Perguntei se ele gostava do Champagne Veuve Clicquot e imediatamente disse que sim! Na mesma velocidade, perguntei se a cor de abóbora do rótulo era mais discreta que o azul da Cattacini e a sua resposta denotou apenas que existe a preocupação de procurar defeitos e não de encontrar virtudes, que muitos têm, quando o assunto é o vinho nacional.
“Drink wine not labels”, já profetizava Maynard Amerine, professor da Universidade de Davis, Califórnia, nos anos 50.
5. A figura do Sommelier vem ganhando força no mundo. Qual o papel dele e quais são seus principais desafios? Como você vê essa profissão no Brasil? Sou formado pela ABS-Rio (Associação Brasileira de Sommeliers) e pela FISAR (Federação Italiana de Sommeliers). Trata-se de uma profissão que é indispensável para restaurantes, lojas e outros negócios que tenham contato com o público do vinho. É uma profissão que só cresce no Brasil e que no futuro próximo se tornará um requisito indispensável para o desenvolvimento dos mercados. 6. Fale sobre a produção dos vinhos na Cattacini: a escolha das uvas, o principal terroir, a técnica utilizada. O que podemos esperar da safra 2017? Qual o vinho carro chefe? A produção da Cattacini procura a qualidade em primeiro lugar. Depois, expressar a minha personalidade com vinhos “diferentes”. São vinhos que não são encontrados no mercado e por isso são produzidos primeiramente para o meu consumo.
A safra de 2017 não foi boa para a Cattacini devido à crise econômica que vivemos. Reduzi, muito a produção dos vinhos e espero que em 2018 possa retomar aos níveis de 2016. Mesmo assim iniciamos um novo tipo de negócio: desenvolver vinhos, em pequenos volumes, a pedido dos clientes. O primeiro foi um rosé de Pinot Noir desenvolvido para o Restaurante La Sagrada Familia, no centro do Rio de janeiro, e agora estamos finalizando a produção do primeiro branco biodinâmico do país: um singular corte de Ribolla Gialla com Fiano, para a Associação Brasileira de Winemakers.
Carro chefe não há pois, a frota é de belas máquinas. Mas esse branco, que já está pronto, aguardando apenas a rotulagem, está uma maravilha.
7. Nos últimos anos, o que mudou no vinho brasileiro e, particularmente, na Cattacini Vinhos? Como estão enfrentando a crise atual? Nos últimos anos assistimos o vinho brasileiro entrar no cenário. Hoje não dá para falar que no Brasil jamais produzirá vinhos de qualidade, como ouvia na década de 80 dos formadores de opinião da época. A profissionalização do setor, antes na mão apenas de empresas familiares, é um dos principais pontos que propiciaram o surgimento de vinhos de padrão internacional. A crise atual está sendo vencida com muito trabalho, redução de produção e preços, promoções, etc. de modo que consigamos chegar em 2018 pelo menos no zero a zero. 8. Sobre seus vinhos preferidos… que estilo de vinho nunca falta na sua adega? A minha adega é eclética e tem de tudo um pouco, mas não pode faltar o espumante brasileiro, principalmente os Cattacini, Azzul, Santiago e Rosé Nature, que para mim são um dos melhores do mercado.
9. Faça uma sugestão de um vinho e o prato que melhor harmoniza com ele. É uma tarefa difícil, já que em termos de gastronomia é difícil dizer o que não gosto, mas a combinação perfeita é uma garrafa espumante Cattacini na praia do Leblon com Barbara, a minha mulher.
Para encontrar os vinhos, confira o site da loja virtual Cave Nacional ou entre em contato direto com Cattacini Vinhos.